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– Todos os Espíritos experimentam, no mesmo grau e durante o mesmo
tempo, a perturbação que se segue à separação da alma e do
corpo?
-
Não, isso depende da elevação de cada um. Aquele que está
purificado se reconhece quase imediatamente, visto que já se
libertou da matéria durante a vida física, enquanto que o
homem carnal, aquele cuja consciência não é pura, conserva por
tempo mais longo a impressão dessa matéria.
165
– O conhecimento do Espiritismo exerce influência sobre a duração,
mais ou menos longa, da perturbação?
-
Uma influência muito grande, uma vez que o Espírito já compreendia
antecipadamente a sua situação. Mas a prática do bem e a pureza da
consciência são os que exercem maior influência.
No
momento da morte tudo, a princípio, é confuso. A alma necessita de
algum tempo para se reconhecer. Ela se acha como aturdida e no estado
de um homem que despertando de um sono profundo procura orientar-se
sobre sua situação. A lucidez das ideias e a memória do passado
lhe voltam à medida que se apaga a influência da matéria da qual
se libertou, e se dissipe a espécie de neblina que obscurece seus
pensamentos.
A
duração da perturbação que se segue à morte do corpo varia
muito; pode ser de algumas horas, de muitos meses e mesmo de muitos
anos. É menos longa para aqueles que desde sua vida terrena se
identificaram com o seu estado futuro, porque, então, compreendem
imediatamente a sua posição.
Essa
perturbação apresenta circunstâncias particulares, segundo o
caráter dos indivíduos e, sobretudo, de acordo com o gênero de
morte. Nas mortes violentas, por suicídio, suplício, apoplexia,
ferimentos, etc., o Espírito é surpreendido, espanta-se, e não
acredita que morreu e sustenta essa ideia com obstinação.
Entretanto, vê seu corpo, sabe que esse corpo é seu e não
compreende porque está separado dele; acerca-se das pessoas a quem
estima, fala-lhes e não compreende porque elas não o ouvem. Essa
ilusão perdura até a inteira libertação do perispírito e, só
então, o Espírito se reconhece e compreende que não pertence mais
ao número dos vivos. Este fenômeno se explica facilmente.
Surpreendido de improviso pela morte, o Espírito fica atordoado
com a brusca mudança que nele se operou. Para ele a morte é ainda
sinônimo de destruição, aniquilamento; ora, como ele pensa, vê e
escuta, não se considera morto. Sua ilusão é aumentada pelo fato
de se ver com um corpo de forma semelhante ao precedente, mas cuja
natureza etérea ainda não teve tempo de estudar; ele o crê sólido
e compacto como o primeiro e, quando chamam sua atenção para esse
ponto, admira-se de não poder apalpá-lo. Esse fenômeno é análogo
ao dos sonâmbulos iniciantes que não acreditam dormir. Para
eles o sono é sinônimo de suspensão das faculdades; ora, como
pensam e veem, julgam que não dormem. Certos Espíritos apresentam
essa particularidade, embora a morte não lhes tenha chegado
inesperadamente; todavia, é sempre mais generalizada naqueles
que, apesar de doentes, não pensam em morrer. Vê-se então, o
singular espetáculo de um Espírito assistindo aos próprios
funerais, como se fora um estranho e deles falando como de uma coisa
que não lhe dissesse respeito, até o momento em que compreende a
verdade.
A
perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem
de bem; é calma e em tudo semelhante à que acompanha um despertar
tranquilo. Para os que não têm a consciência pura, ela é
cheia de ansiedade e de angústias, que aumentam à medida que ela se
reconhece.
Nos
casos de morte coletiva, tem se observado que todos os que perecem ao
mesmo tempo, nem sempre se reveem imediatamente. Na perturbação que
se segue à morte, cada um vai para o seu lado ou se preocupa apenas
com aqueles que lhe interessam.
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