Foi
ofendido. Ouviu o que não devia e um pouco do que precisava. Foi
humilhado, injustiçado, e aquilo bateu forte dentro de si. Acabada a
refrega, terminada a contenda, cada um para seu lado e nosso
protagonista segue, mordido. Mordido passará a semana, e aquela dor
o atormentará, no lazer, no trabalho, no estudo, convertendo-se em
um veneno, uma peçonha destilada nas falas, narrações infinitas do
fato tormentoso que tanto o machucou.
O
trecho narrado se encaixa em diversos personagens, nas lutas
cotidianas, nos desentendimentos comuns da vida do trabalho, da
escola, da casa espírita e que servem de palco para espetáculos
lamentosos, com frases desnecessárias, que terminam por deixar o
indivíduo “mordido”, magoado com aquilo tudo e encontrando como
solução, espalhar seu veneno por todo seu entorno.
O
orgulho ferido figura como causa essencial dessa situação. Afetados
em nossa postura, ao invés de buscar a reflexão, partimos para a
contra-argumentação, como meninos mimados, a medir espaços com
nossos opositores, querendo a réplica, a tréplica, dessa nossa
batalha individual. Seguimos sangrando, querendo a revanche da
situação que nos abalou, engendrando na mente cenários de como foi
ou de como deveria ter sido, massageando medos e inseguranças,
centrando na disputa e pouco em soluções.
A
capacidade de perdoar e de reconstruir relações se apresenta como
competência cicatrizante para estancar a mordida e impedir que esse
veneno se espalhe na fofoca e na maledicência. Perdoar é uma
ciência que precisamos aprender, e exercitar, setenta vezes sete
vezes, como já dito por Jesus.
Passar
uma borracha, reiniciar entendimentos, ceder e negociar são ações
essenciais aos que buscam a paz e a produtividade nas relações.
Pensar nas tarefas, no grupo, nos contextos, sopesando isso com o que
motivou o entrevero, é uma postura madura em casos de atritos entre
as diversas equipes de trabalho, e que permite relevarmos os
problemas, colocando-os no seu devido lugar.
Por
vezes, ficamos sem falar com uma pessoa, magoados, e já nem nos
lembramos do por quê. Antipatias e questões comezinhas servem de
combustível para contendas que se arrastam e que têm a sua gênese,
de fato, nas nossas imperfeições, na intolerância, na inveja e no
ciúme, e que têm como estopim, por vezes, as questões menores.
No
trabalho espírita, diante de um impasse, de um conflito, fujamos do
padrão de trocas de impropérios, seguida da mágoa e da fofoca, na
polarização destrutiva. Respeitemos o dissenso, como natural das
relações, e valorizemos o diálogo, a indulgência e, ainda, a
maturidade que nos permite sair do calor do momento e retornar à
vida que segue.
O
Cristo falou do perdão e do amor aos semelhantes. Kardec nos brindou
com a valorização da argumentação e da humildade. Na casa
espírita, na busca da construção do homem de bem, na realização
de tarefas com amigos de cá e de lá, não se justifica o “climão”
após reuniões com ideias divergentes, e sim a busca do diálogo e
da reflexão, como forma de aprimoramento contínuo.
Certamente,
sabemos que isso é difícil... Mordidos ficamos e arrastamos essa
ferida por anos a fio.
Sofremos
e fazemos sofrer, no veneno da maledicência, esquecendo a lição do
perdão e de como pesam no coração o rancor e a mágoa. Mas
reconhece-se o verdadeiro espírita pelo seu esforço, e aí reside
toda a nossa força.
MARCUS
VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
Obs.:
Crônica retirada do site O Consolador – www.oconsolador.com.br
(texto
grifado por Helena Sousa; a imagem foi a que o cronista utilizou)
Nenhum comentário:
Postar um comentário