(Revista Espírita, fevereiro de 1868 - Instruções dos Espíritos)
11. - Povos, escutai!...
Uma grande voz se faz ouvir de um extremo a outro dos mundos; é a do precursor, anunciando a
vinda do Espírito de Verdade, que vem endireitar as vias tortuosas por onde o
espírito humano se desgarrava em falsos sofismas. É a trombeta do anjo que vem
despertar os mortos para que saiam de seus túmulos.
Muitas vezes tendes lido a
revelação de João e vos perguntastes: Mas, o que quer ele dizer? Como, então,
cumprir-se-ão essas coisas surpreendentes? E vossa razão confusa, mergulhava
num tenebroso dédalo de
onde ela não podia sair, porque queríeis tomar ao pé da letra o que estava expresso em
sentido figurado.
Agora que chegou o tempo em que
uma parte dessas predições vai cumprir-se, pouco a pouco aprendeis a ler nesse
livro onde o discípulo bem-amado consignou as coisas que lhe tinha sido dado
ver. Entretanto, as más traduções
e as falsas interpretações ainda vos aborrecerão um pouco, mas com um trabalho
perseverante chegareis a compreender o que, até o presente, tinha sido para vós uma carta fechada.
Compreendei apenas que se Deus
permite que o véu seja
levantado mais cedo para alguns, não é para que esse conhecimento fique estéril em suas mãos, mas para que,
pioneiros infatigáveis, eles desbravem as terras incultas. É, enfim, para que eles fecundem
com o doce orvalho da caridade os corações ressequidos pelo orgulho e impedidos
pelos embaraços mundanos, onde a boa semente da palavra de vida não pôde ainda germinar.
Ah! Quantos encaram a vida humana
como devendo ser uma festa permanente em que as distrações e os prazeres se
sucedem sem interrupção! Eles inventam mil nadas para encantar os seus lazeres;
eles cultivam o seu espírito, porque é uma das facetas brilhantes que servem para fazer destacar
a sua personalidade; são semelhantes a essas bolhas efêmeras que refletem as cores do
prisma e balançando no espaço atraem os olhares por algum
tempo, depois as procurais... e elas desapareceram sem deixar traços. Assim,
essas almas mundanas brilharam com uma luz de empréstimo, durante sua curta passagem
terrestre, e dela nada restou de útil, nem para os seus semelhantes, nem para
elas próprias.
Vós que conheceis o valor
do tempo, vós a quem as leis da eterna sabedoria são reveladas pouco
a pouco, sede nas mãos do Todo-Poderoso instrumentos dóceis servindo para levar
a luz e a fecundidade a essas almas, das quais se diz: “Têm olhos e não veem, têm ouvidos e não escutam”, porque
tendo-se desviado do facho da verdade, e tendo escutado a voz das paixões, sua
luz não
é senão trevas, em meio às quais o Espírito não pode reconhecer a
estrada que o faz gravitar para Deus.
O Espiritismo é essa voz poderosa que já
repercute até as
extremidades da Terra; todos a escutarão. Felizes aqueles que, não tapando
voluntariamente os ouvidos, sairão de seu egoísmo, como o fariam os mortos de
seus túmulos, e daí por diante realizarão os atos da verdadeira vida, a do Espírito,
desembaraçando-se dos entraves da matéria, como fez Lázaro de seu sepulcro, à voz do Salvador.
O Espiritismo marca a hora solene
do despertamento das inteligências que usaram de seu livre-arbítrio para se demorar nos caminhos
pantanosos cujos miasmas deletérios infectaram a alma com um veneno lento que lhe dá a aparência da morte. O Pai celeste tem misericórdia desses filhos pródigos, caídos tão baixo
que nem mesmo pensam na morada paterna, e é para eles que ele permite essas
manifestações brilhantes, destinadas a convencer que além deste mundo das formas
perecíveis, a alma conserva a lembrança, o poder e a imortalidade.
Possam esses pobres escravos da
matéria sacudir o torpor que
os impediu de ver e compreender até hoje; possam estudar com sinceridade, para que a luz
divina, penetrando-lhes a alma, dela expulse a dúvida e a incredulidade.
JOÃO EVANGELISTA
(Paris, 1866)
Visto em http://ipeak.net/ - 14/12/2016
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