sábado, 29 de abril de 2017

Palestra com Fátima Fernandes - Perdão - 20/04/2017

Estudo moral - Abortamento - Um Espírito que desistiu de nascer


 Um Espírito que desistiu de nascer


(Para ler no IPEAK clique no link acima)
  

             Este estudo foi feito por um grupo particular que se formou há cerca de três anos na cidade do Rio de Janeiro, e que vem praticando a Ciência Espírita seguindo as orientações de Allan Kardec. O IPEAK julgou por bem compartilhar com seus usuários este estudo por julgar que ele poderá ser útil e suscitar aos estudiosos do Espiritismo o interesse por novas pesquisas sobre este tema.

           Reproduzimos aqui o texto que recebemos do Diretor do grupo onde foi feito o estudo.
 
           "A Sra. I. B., irmã de um membro do nosso Grupo espírita particular, estava no oitavo mês e três semanas de gravidez, quando teve um abortamento natural da filha esperada com tanto carinho, e cujo nome escolhido pelos pais seria Flora. A medicina deu como causa do abortamento um quadro de trombofilia desenvolvido pela mãe, mas talvez essa não tenha sido a causa eficiente.

          Não há dúvida de que situações como essa são das mais difíceis de serem superadas pelos pais, especialmente quando se espera com tanto carinho a chegada de um filho amado. Após o triste evento, muitas dúvidas passaram a povoar o pensamento  da Sra. I. e do seu esposo, o Sr. M. P.

            Os futuros pais, embora conhecessem o Espiritismo e encontrassem algum consolo na ideia da imortalidade da alma e na lei da reencarnação, não deixaram de ser assombrados por ideias que lhes tiravam o sono: teriam tomado todos os cuidados durante a gravidez, ou teriam alguma culpa pela morte da filha? Teria uma alma vinculada àquele feto em formação? Por que, afinal, sua filha não teria visto a luz, faltando tão pouco tempo para isso?

            Diante de tantas dúvidas e poucas respostas convincentes capazes de lhes trazer tranquilidade à alma, a Sra. I. B., buscou conselhos e orientações junto a um de seus irmãos que é membro do grupo espírita já citado, praticante do Espiritismo como ciência moral e filosófica.

           Num primeiro momento o seu irmão, que é médium escrevente, sugeriu à irmã a evocação de seu Anjo guardião, a fim de que ele pudesse esclarecê-la sobre os fatos com conhecimento de causa, já que os Anjos têm o olhar de Deus e é por ordem de Deus que velam por seus protegidos. A Sra. I. B., aceitou a sugestão e colocou no papel algumas das perguntas que gostaria de fazer ao seu Anjo.

            Eis as perguntas feitas e as respostas recebidas:

1. Havia um Espírito vinculado ao feto que morreu tão próximo do nascimento?
2. Se havia, peço-te que me esclareça o que ocorreu.
3. Peço-te conselhos para mim e para o meu esposo, e em especial pedimos orientações sobre o que esta prova pode nos ensinar.

            “Minha filha,
 

            Venho dizer-te que havia, sim, um Espírito vinculado ao feto; temendo as provas por que deveria passar, ele retrocedeu em seu desejo de voltar à Terra. Esse Espírito não compreende bem a justiça de Deus, e julga que as suas faltas passadas lhe seriam motivo de grandes expiações; mas Deus não quer a sua queda, e sim a sua reabilitação. A melhor forma que tendes para auxiliá-lo é transmitindo-lhe, pelas preces, ideias de coragem e de confiança nas suas próprias forças, a fim de que perceba que sua consciência culpada será aliviada pela prática do bem, pois Deus não quer o sofrimento de suas criaturas, mas que elas construam a sua felicidade escolhendo sempre o bem.

         Quanto a vós, filhos, digo que a finalidade desta prova foi a de que pudésseis fortalecer a vossa fé e desenvolver a vossa sabedoria; toda dor é um convite ao aperfeiçoamento, e a fé é um recurso que torna mais suaves todas as dores e dá coragem para suportar todos os sofrimentos. As lutas na Terra possibilitam o exercício dos conhecimentos adquiridos; para vós esta é uma oportunidade para vos aproximardes de Deus, lançando um novo olhar para a vida, resignando-vos diante das provas, e vivenciando as suas sábias leis.

           Confiai em Deus e contai sempre comigo, que vos amo; lançai vosso olhar para o alto, filhos, pois é de lá que vem a luz que a tudo ilumina. Esperança, fé e perseverança: eis meu conselho.”

Anjo guardião.
Psicografada em 17/09/2016.
  

          Observação: Nesse primeiro momento não foi questionado se o Espírito que desistiu de reencarnar poderia ser evocado, pois a intenção era apenas saber se havia um Espírito vinculado ao corpo em formação, e qual seria a sua condição. Com o tempo, novas informações foram surgindo e foi possível controlar melhor esta primeira comunicação dada pelo Anjo guardião, como se verá mais adiante.
 
        Passado algum tempo, enquanto o casal meditava sobre as respostas dadas pelo Anjo guardião, algo inesperado aconteceu: por médiuns desconhecidos uns dos outros, houve algumas comunicações espontâneas confirmando as informações dadas pelo Anjo. O pai da Sra. I. B. frequenta um Centro Espírita, no Rio de Janeiro. Um dia, estando próximo de um médium vidente, este disse-lhe perceber um Espírito ao seu lado. Falou que o Espírito desejava pedir perdão pelo fato de não ter conseguido voltar à Terra, e que dizia chamar-se Milena. Fato não menos interessante, e desconhecido do médium, é que este era o nome de um bebê que morreu há algum anos, com apenas dois meses de vida, e que tinha sido filho dos avós da Sra. I. B., portanto, sua tia.

         Por meio de outros médiuns, conhecidos da família, também foi descrita uma história semelhante, com pequenas variações, mas sempre destacando a presença de um Espírito em sofrimento, que teria recuado em seu desejo de voltar à Terra, e que teria produzido o abortamento sofrido pela Sra. I. B., tido pelos médicos como espontâneo.

         Agora, com mais elementos para controlar as comunicações recebidas dos Espíritos, o casal, com auxílio do grupo, resolveu dedicar-se a um estudo mais aprofundado do caso, lançando mão dos recursos que a ciência espírita oferece.

        Não há dúvidas de que os bons Guias do grupo providenciaram as comunicações  que foram dadas espontaneamente em outros meios, para que o grupo pudesse analisar melhor as respostas dos Espíritos até então obtidas.

         Vejamos agora, sucintamente, a sequência dos fatos, conforme eles se deram.
 

Primeira sessão
(Sessão particular – 08 de janeiro de 2017)
 
          Num primeiro momento da sessão, estudamos com atenção os itens 344 e seguintes, sobre a "União da alma e do corpo", em O Livro dos Espíritos. Em seguida, evocamos os nossos Guias e lhes propusemos as seguintes perguntas:
 
            1. Seria oportuno evocar hoje o Espírito que iria renascer como Flora?
            2. Pedimos informações sobre a sua situação atual, e o que podemos fazer para ajudá-lo.

            Recebemos simultaneamente, por dois médiuns, as seguintes comunicações:
 

I
 
          "Julgo que a evocação é oportuna; o Espírito que desejais chamar aqui está e deseja falar-vos, amigos; seu estado é de sofrimento e a hora é preciosa porque podereis, pelos diálogos, ajudá-lo a fortalecer-se e a perceber que a vida no corpo, que ele ainda teme, só tem por fim facilitar-lhe o progresso, aproximando-o de Deus. Envolvei esta alma com compaixão e ternura, e nós tocaremos a sua consciência, a fim de que abandone o caminho do erro e siga agora mais livre e feliz."

VICENTE DE PAULO, presidente espiritual do grupo.
Psicografada em 08/01/2017
 
II
 
            "Meus filhos, podeis evocar o Espírito a que chamais Flora. Ele aqui se encontra e deseja vos ditar algumas palavras. Para melhor auxiliá-lo, orai por ele com os corações cheios de compaixão, dirigindo-lhe pensamentos de coragem e resignação. Ademais, quando fordes estudar algum tema, chamai os guias e convidai-o para se instruir convosco. Crescei juntos, e não temais aprofundar os diálogos com ele, pois isso será motivo de grande instrução para vós e para o Espírito."

ERASTO, guia do médium.
Psicografada em 08/01/2017

            Feita a evocação, propusemos ao Espírito as seguintes perguntas, previamente elaboradas pelo casal, que seria seus pais:

            1. Atendeu ao nosso chamado de boa vontade?
            2. Você é o Espírito que esteve vinculado ao corpo de Flora?
            3. Foi útil para você o período em que esteve vinculada ao corpo?
            4. Se formássemos um novo corpo, você gostaria de reencarnar nele?
            5. De que forma nós poderíamos ajudá-lo neste processo?
            6. Gostaria de nos dizer algo mais?

            Recebemos a seguinte comunicação:

            "Meus pais queridos,
 

            Sim, são meus pais! Ainda o são! Queria me comunicar, dizer que amo vocês, embora tenha partido. Foi só por medo, um medo que me tira a razão e me faz deixar de ver qualquer coisa além... Mas, estou aqui e peço desculpas.

            O período que passei com vocês durante a gestação foi útil para repensar muitas coisas. Eu percebi que, até que a gente tome contato com a realidade que escolheu para si, não temos muito a noção de quão verdadeira, quão profunda, foi nossa escolha. Eu notei que ainda não tinha de fato me arrependido de algumas coisas, e por isso não tive a força para prosseguir. Ainda preciso de tempo para meditar e encontrar os motivos para mudar. Sim, eu gostaria de voltar, mas dessa vez a escolha deverá ser consciente. Para isso, peço que orem sempre por mim, pois a prece me traz coragem e me ajuda a buscar os bons Espíritos, que tanto me auxiliam.

            Obrigada por tudo que fizeram por mim; por cada escolha difícil que tiveram que fazer, cada momento de dor e, especialmente, por todo carinho que sempre me dispensaram, e que não mereci. Obrigada."

FLORA.

Psicografada em 08/01/2017
  

Segunda sessão
(Sessão particular – 20 de janeiro de 2017)
 
            Nesta sessão estudamos os itens 258 e seguintes de O Livro dos Espíritos, sobre a escolha das provas. Em seguida, evocamos o Espírito de Flora e tivemos com ele o seguinte diálogo:
 
1. Com o que tem se ocupado desde nosso último diálogo? 

- Tenho buscado refletir, sair um pouco das minhas ideias e me permitir ouvir os bons guias. O orgulho nos faz desejar não ouvir algumas verdades, mas as preces têm me ajudado. Estou tentando tomar a boa via.

 
2. Tens orado, pedido a Deus que te ajude a entender o que deves fazer? 

- Não.
 
3. Sugerimos que tentes, pois a prece te fará muito bem e tuas ideias ficarão mais claras. 

- Prometo tentar.
 
4. Tens vindo aos estudos que temos feito? 

- Sim, acho que estou entendendo melhor algumas coisas.
 
5. Teria alguma dúvida ou comentário sobre os estudos? 

- Sobre a escolha que fiz das minhas provas, digo que Deus me permitiu escolhê-las, mesmo que eu o tenha feito sem muita certeza do que elas me proporcionariam. Apenas queria pagar pelo que fiz e me livrar de um fardo.
 
6. Tens te instruído com teu Anjo guardião?
 
- Algumas vezes ele me ajuda, noutras eu penso sozinha.
 
7. É permitido que nos digas por quais gêneros de prova passarias como Flora? 

- Sim, precisaria passar por privações físicas em meu corpo.[1]
 
8. Tu nos disseste ter um medo que te tira a razão. Talvez falar sobre esses medos pode ser-te útil, e poderemos melhor te ajudar. Gostarias de nos falar sobre eles? 

- Medo de sofrer o quanto fiz os outros sofrerem. Quando se toma consciência da dor causada no outro, espera-se que a punição deva ser proporcional. O medo ainda me caracteriza.
 
9. Mas, Deus, que é infinito em sua bondade e misericórdia, quer ver-te feliz, quer que repares tuas faltas fazendo o bem em vez do mal, para que possas gozar da felicidade eterna como a dos nossos Anjos. Vês aqui nossos guias?
 
- Sim, estão aqui e nos ajudam.
 
10. Percebes a felicidade deles?

            Observação do médium: Após uma breve pausa feita pelo Espírito, o médium sentiu um forte calor fluídico, e o Espírito voltou a escrever.
 
- Eles me mostram... Eu nunca senti isso antes, eu não mereço...
 
11. O que eles te dizem?
 
- Que eu posso chegar a ser feliz como eles, também; que preciso rever o que fiz e tomar novas resoluções para que, cumprindo a vontade de Deus, eu possa ser um com Ele.
 
12. Essa resposta te parece justa?
 
- Não sei o que posso fazer para reparar o que fiz. Sofrer pode me libertar da culpa, mas não faz com que os que sofreram pelas minhas faltas tenham deixado de sofrer!

            Observação: há grande sabedoria nesta ideia. No entanto, parece que boa parte dos homens e dos Espíritos ainda não compreende que fazer o bem é a melhor expiação, e não a mutilação do corpo, ou o sofrimento por si só.
 
13. Não faz. Mas, Deus é justiça e misericórdia, e sempre tira do mal que o homem faz, o bem. O sofrimento, consequência natural das más ações, só tem por objetivo fazer com que quem sofre se emende.[2]
 
- Sim, compreendo. E agora entendo melhor que devo me adequar à vontade de Deus. O que me falta ainda é um pouco mais de coragem.
 
14. Nós vamos continuar orando por ti para que tomes as melhores decisões.
 
- Obrigada.
 
15. No outro diálogo tu nos disseste que ainda não tinhas de fato te arrependido de algumas coisas, e por isso não tiveste a força para prosseguir, e que ainda precisavas de tempo para meditar e encontrar os motivos para mudar. Poderíamos te ajudar de alguma forma quanto a isso? 

- Pelas orações que fizerem por mim já me ajudam.
 
16. Gostarias de nos dizer algo mais?
 
- Vou buscar me instruir mais. Tenho aproveitado os estudos, eu e outros que também vêm aprender. O caminho é longo, mas é necessário buscar a melhor direção, e sempre temos essas mãos amigas para nos ajudar a encontrá-la. Despeço-me, agora.
FLORA.
Psicografada em 20/01/2017


 
Terceira sessão
(Sessão particular – 10 de fevereiro de 2017)
 
            Nesta sessão, estudamos o texto Ajuda-te e o Céu te ajudará, de O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXV, itens 1 a 5. Em seguida, evocamos o Espírito de Erasto para que nos esclarecesse sobre alguns pontos, e em seguida evocamos o Espírito de Flora.
            A Erasto:
 
1. A que se deve o mal estar (tristeza, apatia, irritabilidade e dificuldade para dormir) que a Sra. I. B.  sentiu durante a gravidez?

- As provas por que o Espírito de Flora passaria nessa existência constituíam também provas para os pais, que as escolheram, por sua vez, também como expiação, para reparar faltas passadas. Sabiam também, embora não se lembrem em vigília, de que havia chances de o Espírito recuar ante as novas escolhas. O mal-estar sentido deveu-se à frustração, fruto da percepção de que o Espírito de Flora desejava voltar atrás em suas escolhas. Durante a emancipação pelo sono os pais conversavam com a futura filha tentando encorajá-lo, mas a vontade do Espírito preponderou.
 
2. O Espírito de Flora teria feito as escolhas das provas sem o auxílio de seu Anjo guardião? Por que ele disse não ter noção mais precisa da gravidade das escolhas que fez?

- Algumas vezes ouvia os conselhos do seu Anjo, é verdade, mas não havia o esforço por instruir-se. Acreditava que poderia atenuar seus sofrimentos, mas sua visão  ainda imperfeita e muito material e sobre as coisas, o levava a não compreender bem como se daria a ação do remédio para as suas dores.
 
            Observação: A falta de compreensão e de confiança na perfeição das soberanas leis de Deus é o que nos impede, muitas vezes, de avançar, porque não encontramos as razões para fazer os esforços necessários a fim de atingir o objetivo, que é o próprio Deus.
3. Esse Espírito tem buscado agora instruir-se com os guias?
  
- Sim. vossas preces o tem encorajado a isso.
  
4. Que benefícios as orações que temos feito por ele lhe têm proporcionado? 

- A coragem de que necessita tem aumentado, e ele se sente hoje mais fortalecido. A prece é um poderoso meio de auxílio aos Espíritos, não o duvideis. 

5. Pedimos conselhos para melhor nos conduzirmos no estudo desse caso. 

- Continuai com as preces e estudai sobre a expiação das faltas. Um melhor conhecimento sobre o assunto poderá auxiliá-lo, fortalecendo sua fé em Deus e em seu futuro. Evocai-o ainda outras vezes, e podereis ver o progresso que se realizará.


ERASTO.
Psicografada em 20/01/2017
 
           Recebemos também, por outro médium e simultaneamente, a seguinte comunicação espontânea:

 

         "Esse Espírito fez algumas de suas escolhas sem levar em conta os conselhos do seu anjo guardião, que ele pouco buscava; algumas vezes agiu mais por impulso do que por uma atitude refletida e consciente acerca da gravidade das escolhas e de suas consequências para o seu progresso. O seu desejo de aproximar-se dos bons Espíritos tem lentamente despontado, mas de modo ainda tímido, em parte pelo pouco hábito de procurá-los, mas especialmente pelo medo que ainda alimenta de empreender certas mudanças necessárias.

          As preces lhe têm feito bem e têm ajudado em sua moralização; as boas palavras que lhe dirigis e os bons pensamentos com que o envolveis ajudam-no a fortalecer-se, mas ainda não fazem todo o bem que poderiam, em virtude de certa resistência interna por ele imposta.

          As perguntas que preparastes para lhe propor esta noite poderão ajudá-lo a refletir um pouco mais sobre os caminhos que tem trilhado; nós poderemos ajudá-lo, se ele assim o desejar, a ver como melhor empregar sua razão, a fim de que ele próprio encontre a saída do labirinto onde desde muito entrou, e para que siga mais livre e feliz.”


VICENTE DE PAULO.
Psicografada em 20/01/2017




Feita a evocação do Espírito de Flora, tivemos com ele o seguinte diálogo:
 

1. Evocação.

- Estou aqui. Obrigada por me chamarem novamente.

2. Com o que tem se ocupado desde o nosso último diálogo?
 
- Tenho me esforçado para ouvir os Guias, tenho tentado. Eles me dizem que posso estar sempre com eles, mas ainda não estou pronta.

3. Pronta para quê? Para instruir-te com eles?
 
- Para merecer estar sempre com eles.

4. A presença deles não te faz bem? Não ajuda a pensar melhor e a aliviar seus sofrimentos?
 
- Sim.

5. Conseguiste orar? Se sim, que resultados obtiveste?
 
- Consegui, sim. Orar me acalmou. Quando orei, eu percebi os Guias, que me ajudavam a orar junto a eles. Foi um alívio. Levei minhas lágrimas a Deus e pedi perdão pelo que fiz. Os bons Guias me disseram que Deus sempre perdoa, e que só deseja que vivamos a caridade, o amor ao próximo, no limite da nossa capacidade.

6. Ouviste o texto que lemos? Tens algo a perguntar ou comentar sobre ele?
 
- Sim, me tocou profundamente. Ninguém quer sofrer, mas agora eu entendi melhor porque se escolhem provas que possam causar sofrimento... É questão do que se aprende naquela situação difícil, o que desperta das resoluções do Espírito para que demonstre, na prática, se venceu aquela etapa, e que suas ideias das virtudes foram incorporadas para sempre eu seu caráter. Os bons amigos me ajudaram hoje a ver que, para vencer as provas, há o auxílio deles, e isso me motiva a seguir porque confio neles e agora também já confio mais em Deus.

7. A melhor expiação é fazer o bem, apagar cada falta com uma boa ação. O que pensa sobre a expiação das faltas?
 
- Sei que o que fiz não deixará de estar feito, não se volta atrás... Mas sei que, num futuro onde eu possa ter a consciência reta e um bom juízo das coisas, vou me tornar um filho fiel a Deus, um filho que não mais quer tornar a errar.

8. Orar por si mesmo, pedindo a Deus forças para bem agir, para cumprir sua vontade, é um bom meio de obter a força e a coragem necessárias. O que pensas sobre isso?
 
- Sim, agora compreendi melhor isso.

9. Lembras-te de tuas existências anteriores?
 
- Sim. É o que me pesa no coração.

10. É permitido que nos contes sobre as faltas passadas que escolheste expiar na existência da qual desististe?
 
- Sim. Talvez falar sobre isso me ajude. Tive poder, um poder perigoso que não se deve desejar possuir sem que se esteja preparado para fazer boas escolhas e não cair nas armadilhas do amor-próprio. Eu mandei fazer mal a muitas pessoas... Não me interessava saber dos seus motivos, bastava ter desobedecido a alguma norma da Igreja.

11. Saberias precisar onde e em que época viveste?
 
- Numa região da França, no século XIV.

12. O que escolheste para aquela encarnação?
 
- Eu desejei ter poder. Em uma existência anterior eu havia sofrido na pobreza e queria experimentar o poder. Deus me permitiu, e ainda pago pelos meus erros.

13. Eras religioso, ou apenas ocupavas um cargo de poder?
 
- Era religioso, na forma.

14. Poderias nos descrever teu passamento daquela encarnação?
 
- Morri doente, sozinho, sem amigos verdadeiros ou família. Sofri já na Terra as consequências do egoísmo.

15. E depois da morte?
 
- Depois eu sofri muito! Eram muitos os que me perseguiam sem cessar, não havia outra forma de ser... Foi consequência do que eu fiz.

16. Essa é a primeira vez que tentas encarnar em nossa família?

- Não.

17. Nasceste como Milena, e seria hoje nossa tia?

- Sim, fui eu.

18. A criança Milena desencarnou com poucos meses de idade. A causa da morte foi também devido ao recuo ante as provas?

- Noutra oportunidade poderemos falar melhor sobre isso. Agora vou.


Quarta sessão
(Sessão particular – 03 de março de 2017).
 

            Nesta sessão fizemos uma prece fervorosa rogando a Deus e a Jesus pelo Espírito de Flora, pedindo a cura para essa alma enferma. Em seguida o evocamos.
 
1. Evocação.
 
- Estou aqui.

2. Percebo-te mais leve. Esteves aqui enquanto conversávamos?

- Sim, e não consigo traduzir em palavras o que sinto agora. Esses guias luminosos nos abraçam e estamos todos imersos em uma imensa luz. Posso ver mais claramente e as ideias ecoam em minha alma com uma força indescritível. A coragem que é despertada no Espírito, agora eu entendo melhor, vem das ideias bem compreendidas somadas à vontade de vencer os vícios.

3. O que pensas hoje sobre a encarnação como oportunidade de progresso e de reparação das faltas? Pois agora sabes que tens faculdades de origem divina, e que tens dentro de ti todas as ferramentas para a construção de um futuro de felicidade.

- Vejo isso agora com mais clareza. Como ainda vejo o passado com pesar! Mas o desejo de um futuro de venturas me invade agora, e não quero mais me afastar do caminho reto que leva a Deus; não quero me afastar desses bons Guias, que me garantem seu apoio tão solícito.

4. Ainda gostarias de encarnar em nossa família?

- Sim, é o que desejo.

5. A prática do Espiritismo na família te estimula a nascer entre nós?
 
- Sim. É um alento e uma oportunidade de ver mais claramente o que deverei seguir, quando encarnada. Peço a Deus que me dê essa oportunidade de progresso, e sei que, se fizer bom uso dela, serei muito mais feliz.

6. Gostarias de nos dizer algo mais?

- Agradeço muito pelas preces, e digo que o caminho que trilhei até aqui não me fez feliz, e agora quero algo novo. Tenho buscado os conselhos dos bons Espíritos, e esse contato foi fundamental para que se desse em mim uma revolução nas ideias. Não mais sofrimento, não mais os erros, quero agora voltar os olhos e as mãos a Deus, agindo apenas para ele. Tenho a certeza de que serei feliz, se fizer jus, e peço que continuem orando por mim, pois ainda há muitas escolhas que devo fazer antes de mergulhar na carne novamente e, dessa vez, cumprir o prometido. Obrigada por tudo.
   
Sua filha,

FLORA.
Psicografada em 03/03/2017
 
            Em seguida, recebemos espontaneamente, por dois médiuns, as seguintes comunicações:
 
I
 
            O Espírito da Flora deu passos importantes, e seu discurso é verdadeiro. Vede que o esclarecimento do Espírito não significa já haver escolhido as provas por que deverá passar, mas é o estímulo a incentivá-lo a desejar uma nova existência em que possa crescer e reparar suas faltas, após um processo de reflexão e escolha dos melhores meios para chegar ao objetivo vislumbrado. Orai ainda por esse Espírito, e agradecei a Deus pelas oportunidades dadas por essa Ciência do Espírito, que deve servir a todos os que a buscam como meio de progresso.
 
ERASTO.
Psicografada em 03/03/2017
 
II
 
            A amizade verdadeira é poderoso argumento para encorajar e acolher as almas que buscam empreender uma nova etapa de progresso encarnando-se num corpo material. Sabendo que será acolhido por pessoas que têm seus laços afetivos construídos sob as bases sólidas de uma amizade inabalável, o Espírito reencarnante tem diminuída boa parte das incertezas, que poderiam constituir o rol de suas preocupações.

            No entanto, pouco se conhece nesse mundo sobre o verdadeiro sentido dessa virtude, que é confundida tantas vezes com o jogo de interesses, a troca de favores, por vezes condicionada a retribuições, a uma conivência perniciosa, ou concessões injustas, para garantir que a convivência seja duradoura. Todavia, sempre que há uma condição qualquer imposta para que a amizade permaneça, há interesse, e nesse caso os laços facilmente podem romper-se. Sugerimos, amigos, que busqueis compreender o que significa verdadeiramente essa virtude chamada amizade, e assim construir uma solidariedade e uma fraternidade invulneráveis a qualquer ataque, seja dos inimigos internos ou externos, porque cercada e fortalecida pelos laços do amor e da caridade bem compreendidos.

PASCAL.
Psicografada em 03/03/2017

            Observação: Antes de evocamos os Espíritos, havíamos lido duas dissertações de Pascal, publicadas na Revista Espírita de maio de 1865: "Deus não se vinga" e "Progresso intelectual”, e também lemos a dissertação "A amizade e a prece”, Revista de junho de 1863.
 

            Inserimos aqui algumas instruções que recebemos de Allan Kardec, quando da evocação do Espírito de um piloto de avião comercial que havia morrido ainda jovem, na queda da aeronave que ele mesmo pilotava, por impudência sua, e que nos disse ter escolhido, como Espírito, antes de reencarnar, uma vida mais longa e uma doença crônica na maturidade, doença que, segundo ele, o ajudaria a impor uma retidão ao seu caráter.
 
Escolher doenças como meio de conter as más paixões
 
            “O Espírito do Sr. Q… têm um preconceito comum a muitos homens na Terra: julga ele que o freio mais eficaz, que o ajudará a aplacar o calor das paixões e dos desejos menos nobres, está em grande parte fora de si; vede que ele escolheu a doença como meio de progredir, esperando que a doença o auxiliasse a recordar dos compromissos assumidos; que o ajudasse a se transformar, o que denota que ele sabe que deve libertar-se das paixões que o infelicitam para que possa ser feliz; mas notai que ele procura uma solução deveras material para algo que é de ordem moral. Importa que ele perceba, no entanto, que doença alguma fará o trabalho que a alma, e apenas ela mesma, pode fazer em si própria, revolvendo a sua intimidade e retirando daí o que ainda há de mal. É certo que alguns obstáculos materiais podem ser úteis, mas, para serem proveitosos faz-se necessário bem utilizar a razão, esclarecida pela assistência dos bons Espíritos, a fim de modificar os caracteres da alma que precisem de reforma. Ao atravessar uma doença, pode-se ter muitas reflexões oportunas, mas em vosso mundo é frequente que as melhores reflexões tendam a ser esquecidas, quando não vêm acompanhadas de uma vontade firme de empreender mudanças indispensáveis para a construção da felicidade futura.”


Allan Kardec.
Psicografada em 08/02/2017
 
            Ao meditarmos sobre o que nos foi dito pelo nosso Mestre, outras dúvidas nos surgiram e então lhe propusemos as seguintes perguntas:

1. A Poderíamos considerar como um preconceito religioso o fato de crer que os meios de salvação estão, em grande parte, fora de nós? 

- Sim. 

2. Sobre que ideias falsas esse preconceito foi construído?

- Tem por base a crença de que apraz a Deus o sofrimento do pecador, como se tal sofrimento fosse uma moeda com a qual se quitam as dívidas contraídas com o Criador. Essa crença, por sua vez, teve sua origem na degeneração de um princípio verdadeiro: o de que o sofrimento é um meio de progresso de que Deus se utiliza para a educação de seus filhos. Mas, como sabeis, o sofrimento é o efeito direto da inobservância às leis de Deus. 


3. As doenças geram, de certa maneira, um peso e uma prova para quem dedica-se a cuidar do doente, seja a família, seja o Estado, ou ambos. Entendemos que Deus é justo e não impõe provas indevidas a ninguém. No entanto, perguntamos: escolher uma doença como meio de progresso não seria um recurso do egoísmo e do desejo de ser servido?

- Em geral, não. Os Espíritos escolhem as vicissitudes da vida material quase sempre visando seu progresso moral, embora nem sempre o façam como resultado de um estudo aprofundado e refletido sobre si e sobre seus vícios. Fruto do egoísmo, muitas vezes, é a escolha da riqueza, dos sucessos materiais, e que não raro resultam em grandes prejuízos para os Espíritos que os pedem, por sucumbirem às tentações que escolheram para si sem o devido preparo. 


4. Parece lógico que a melhor escolha, tanto como Espírito quanto como encarnado, seria a de uma saúde perfeita, a fim de bem aproveitar o tempo a serviço da própria instrução e para servir ao próximo. É justa essa ideia?

- Sim, é justa; mas nem sempre é esse o meio de progresso mais eficaz para todos os Espíritos. Há alguns que precisam do sofrimento para que, naquela situação, seja imposta ou escolhida, eles estejam expostos às melhores condições para dobrarem seu orgulho e aprender lições ainda elementares sobre a obediência às leis de Deus. Aos que estão aptos, quanto mais recursos, melhor; aos viciosos, são ainda necessários os meios mais apropriados ao aprendizado das lições mais urgentes.
Lembrai-vos, meus amigos, de que é o conjunto das sucessivas encarnações que possibilitará ao Espírito obter o progresso, e que cada existência encerra diferentes capítulos dessa trajetória.

Allan Kardec.

Psicografada em 15/02/2017.
  

            Observação: novos estudos e observações ainda serão feitos sobre esse caso, pois muito ainda temos que aprender. Teremos a oportunidade de observar no futuro uma possível gravidez da Sra. I., e acompanhar os fatos levando-se em conta o que já obtivemos até o momento.





[1] Ver, ao final do artigo, uma instrução dada por Allan Kardec sobre essa questão.

[2] Veja-se o item 1009, do Livro dos Espíritos, comunicação de Paulo, Apóstolo. 


Visto em http://ipeak.net/ - 27/04/2017

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Um cientista ambicioso


(O Céu e o Inferno - Segunda Parte - Exemplos, cap. VIII - Expiações terrestres) 

A Sra. B..., de Bordeaux, não sofreu as pungentes angústias da miséria, mas foi toda a vida uma mártir de dores físicas pelas incontáveis doenças graves de que foi acometida, durante setenta anos, desde a idade de cinco meses, e que, quase todo ano, a puseram à porta do túmulo. Foi envenenada três vezes pelos ensaios feitos nela pela ciência incerta, e seu temperamento, arruinado pelos remédios tanto quanto pelas doenças, deixou-a até o fim dos seus dias vítima de intoleráveis sofrimentos que nada podia acalmar. Sua filha, espírita cristã e médium, pedia a Deus, nas suas preces, para aliviar suas cruéis provações, mas seu guia espiritual lhe disse para pedir simplesmente para ela as suportar com paciência e resignação, e ditou-lhe as instruções seguintes:

“Tudo tem sua razão de ser na existência humana; não há um único dos sofrimentos que causastes que não encontre um eco nos sofrimentos que suportais; nem um de vossos excessos que não encontre um contrapeso em uma de vossas privações; nem uma lágrima cai de vossos olhos sem ter de lavar uma falta, às vezes um crime. Aguentai então com paciência e resignação vossas dores físicas ou morais, por mais cruéis que vos pareçam, e pensai no cultivador cujos membros pendem de cansaço, mas que continua sua obra sem se deter, pois tem sempre diante dele as espigas douradas que serão os frutos da sua perseverança. Tal é o destino do infeliz que sofre na vossa terra; a aspiração para a felicidade que deve ser o fruto da sua paciência, torná-lo-á forte contra as dores passageiras da humanidade.

“Assim ocorre com tua mãe; cada dor que ela aceita como uma expiação é uma mancha apagada do seu passado, e quanto mais cedo todas as manchas forem apagadas, mais cedo ela será feliz. Somente a falta de resignação torna o sofrimento estéril, pois então as provas deverão recomeçar. Portanto, o que é mais útil para ela é a coragem e a submissão; é o que é preciso pedir a Deus e aos bons Espíritos que lhe concedam.

“Tua mãe foi outrora um bom médico, muito conhecido numa classe em que nada custa para assegurar o bem-estar, e na qual ele foi cumulado de dons e de honrarias. Ambicioso por glória e riquezas, querendo alcançar o apogeu da ciência, não em vista de aliviar seus irmãos, pois não era filantropo, mas em vista de aumentar sua reputação, e, por conseguinte, sua clientela, nada lhe custou para levar a bom fim seus estudos. A mãe era martirizada em seu leito de sofrimento, porque ele previa um estudo nas convulsões que provocava; a criança era submetida às experiências que deviam dar-lhe a chave de certos fenômenos; o velho via apressar seu fim; o homem vigoroso sentia-se enfraquecido pelos experimentos que deviam constatar a ação de tal ou qual beberagem, e todas essas experiências eram tentadas no desgraçado sem desconfiança. A satisfação da cupidez e do orgulho, a sede de ouro e de reputação, tais foram os motivos de sua conduta. Foram precisos séculos e terríveis provas para domar esse Espírito orgulhoso e ambicioso; depois o arrependimento começou sua obra de regeneração, e a reparação está terminando, pois as provas desta última existência são brandas perto das que ele aguentou. Portanto, coragem, se a pena foi longa e cruel, a recompensa concedida à paciência, à resignação e à humildade será grande. 

“Coragem, vós todos que sofreis; pensai no pouco tempo que dura vossa existência material; pensai nas alegrias da eternidade; chamai a vós a esperança, esta amiga devotada de todo coração sofredor; chamai a vós a fé, irmã da esperança; a fé que vos mostra o céu onde a esperança vos faz penetrar antes do tempo. Chamai também a vós estes amigos que o Senhor vos dá, que vos rodeiam, vos apoiam e vos amam, e cuja constante solicitude vos leva de volta àquele que havíeis ofendido ao transgredir as suas leis.”
Observação: Após a morte, a senhora B... deu, quer à sua filha, quer à Sociedade Espírita de Paris, comunicações em que se refletem as mais eminentes qualidades, e em que ela confirma o que fora dito de seus antecedentes.

Visto em http://ipeak.net/ - 19/04/2017
 

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Necessidade da reencarnação

 
(Revista Espírita, fevereiro de 1864 - Dissertações espíritas)
 
(Sociedade Espírita de Sens. - médium, Sr. Percheron)
 
 
Deus quis que o Espírito do homem fosse ligado à matéria para sofrer as vicissitudes do corpo com o qual se identifica a ponto de ter a ilusão e de tomá-lo por si mesmo, quando não passa de sua prisão passageira. É como se um prisioneiro se confundisse com as paredes de sua cela.

Os materialistas são muito cegos por não se aperceberem de seu erro, pois se quisessem refletir um pouco seriamente, veriam que não é pela matéria de seu corpo que se podem manifestar; veriam que, considerando-se que a matéria desse corpo se renova continuamente, como a água de um rio, não é senão pelo Espírito que podem saber que são sempre eles próprios.

Suponhamos que o corpo de um homem que pesasse sessenta quilos assimile, para a reparação de suas forças, um quilo de nova substância por dia, para substituir a mesma quantidade de antigas moléculas de que se separa e que realizaram o papel que lhes tocava na composição de seus órgãos. Ao cabo de sessenta dias a matéria desse corpo achar-se-ia, então, renovada. Nesta suposição, cujos números podem ser contestados, mas verdadeira em princípio, a matéria do corpo renovar-se-ia seis vezes por ano. O corpo de um homem de vinte anos, assim, já se teria renovado cem vezes; aos quarenta, duzentas e quarenta vezes; aos oitenta, quatrocentas e oitenta vezes. Mas o vosso Espírito ter-se-á renovado? Não, pois ten­des consciência de que sois sempre vós mesmos. É, pois, o vosso Espírito que constitui o vosso eu, e por intermédio do qual vós vos afirmais, e não o vosso corpo, que não passa de matéria efêmera e mutável.

“Os materialistas e panteístas dizem que as moléculas desagregadas depois da morte do corpo retornam todas à massa comum de seus elementos primitivos, e o mesmo se dá com a alma, isto é, com o ser que pensa em vós. Mas que sabem eles disso? Há uma massa comum de substância que pensa? Eles jamais o demonstraram, e é o que deveriam ter feito antes de afirmar. Da parte deles, portanto, não passa de uma hipótese. Ora, considerando-se que durante a vida do corpo as moléculas se desagreguem várias centenas de vezes, ficando o Espírito sempre o mesmo, conservando a consciência de sua individualidade, não é mais lógico admitir que a natureza do Espírito não é de se desagregar? Por que então se dissolveria após a morte do corpo e não antes?

“Após esta digressão dirigida aos materialistas, volto ao meu assunto. Se Deus quis que as criaturas espíritas fossem momentaneamente unidas à matéria é, repito, para fazê-las sentir e, por assim dizer, sofrer as necessidades que a matéria exige de seus corpos para sua conservação. Dessas necessidades nascem as vicissitudes que vos fazem sentir o sofrimento e compreender a comiseração que deveis ter por vossos irmãos na mesma posição. Esse estado transitório é, pois, necessário à progressão do vosso Espírito, que sem isto ficaria estagnado.

As necessidades que o corpo vos faz experimentar estimulam o vosso Espírito e o forçam a procurar os meios de provê-las, e desse trabalho forçado nasce o desenvolvimento do pensamento. Constrangido a presidir os movimentos do corpo para dirigi-los visando a sua conservação, o Espírito é conduzido ao trabalho material e daí ao trabalho intelectual, necessários um ao outro e um pelo outro, pois a realização das concepções do Espírito exige o trabalho do corpo, e este não pode ser feito senão sob a direção e o impulso do Espírito. Tendo assim o Espírito adquirido o hábito de trabalhar, constrangido pelas necessidades do corpo, o trabalho, por sua vez, se lhe torna uma necessidade, e, quando desprendido de seus laços, ele não precisa pensar na matéria, mas pensa em trabalhar-se a si mesmo, para o seu adiantamento.

Agora compreendeis a necessidade para o vosso Espírito de ser ligado à matéria durante uma parte de sua existência, para não ficar estacionário.
 
Teu pai,
PERCHERON, assistido pelo Espírito de PASCAL.
 

OBSERVAÇÃO: A estas observações, perfeitamente justas, acrescentaremos que, trabalhando para si mesmo, o Espírito encarnado trabalha para o melhoramento do mundo em que ele habita. Assim, ele ajuda em sua transformação e no seu progresso material, que estão nos desígnios de Deus, de que ele é o instrumento inteligente. Na sua sabedoria previdente, quis a Providência que tudo se encadeasse na Natureza; que todos, homens e coisas, fossem solidários. Depois, quando o Espírito tiver realizado a sua tarefa, quando estiver suficientemente adiantado, gozará dos frutos de suas obras.


 Visto em http://ipeak.net/ - 12/04/2017
 

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Evocações particulares - Uma conversão

 
(Revista Espírita, janeiro de 1858)
 
 
Embora sob outro ponto de vista, não será menor o interesse oferecido pela evocação seguinte.

Um senhor, que designaremos pelo nome de Georges, farmacêutico numa cidade do Sul, há muito havia perdido o pai, objeto de toda a sua ternura e de profunda veneração. O velho Sr. Georges ─ o pai ─ aliava a uma instrução muito vasta todas as qualidades que marcam o homem de bem, posto professasse ideias materialistas. A esse respeito o filho partilhava das mesmas ideias, se não ultrapassava as do pai; duvidava de tudo: de Deus, da alma, da vida futura. O Espiritismo não se adaptava a tais pensamentos. A leitura de O Livro dos Espíritos, entretanto, provocou-lhe uma certa reação, corroborada por uma conversa direta que tivemos com ele. Ele dizia: “Se meu pai pudesse me responder, eu não duvidaria mais”. Foi então que se fez a evocação seguinte, na qual encontramos diversos ensinamentos.
 
1. ─ Em nome do Todo-Poderoso, Espírito de meu pai, eu lhe peço que se manifeste. O senhor está junto de mim?
─ Sim.
 
2. ─ Por que o senhor não se manifesta diretamente a mim, quando tanto nos amamos?
─ Mais tarde.
 
3. ─ Poderemos nos encontrar um dia?
─ Sim, breve.
 
4. ─ Amar-nos-emos como nesta vida?
─ Mais.
 
5. ─ Em que meio o senhor se acha?
─ Sou feliz.
 
6. ─ O senhor reencarnou ou está errante?
─ Errante por pouco tempo.
 
7. ─ Que sensação experimentou ao deixar o envoltório corporal?
─ De perturbação.
 
8. ─ Quanto tempo durou a perturbação?
─ Pouco para mim, muito para você.
 
9. ─ Pode avaliar a sua duração, de acordo com o nosso modo de contar?
─ Dez anos para você, dez minutos para mim.
 
10. ─ Mas não faz tanto tempo que eu o perdi. Não foi há apenas quatro meses?
─ Se você, como vivo, estivesse em meu lugar, teria sentido aquele tempo.
 
11. ─ Crê agora em um Deus justo e bom?
─ Sim.
 
12. ─ Quando vivo na Terra também acreditava?
─ Eu tinha a presciência mas não acreditava.
 
13. ─ Deus é Todo-Poderoso?
─ Não subi até ele para avaliar o seu poder. Só ele conhece os limites de seu poder, porque só ele é seu igual.
 
14. ─ Ele se ocupa com os homens?
─ Sim.
 
15. ─ Seremos punidos ou recompensados de acordo com nossos atos?
─ Se você fizer o mal, sofrerá.
 
16. ─ Serei recompensado se fizer o bem?
─ Avançará em seu caminho.
 
17. ─ Estou no bom caminho?
─ Faça o bem e estará.
 
18. ─ Creio ser bom, mas seria melhor se um dia pudesse encontrá-lo, como recompensa.
─ Que este pensamento o sustente e o encoraje.
 
19. ─ Meu filho será bom como seu avô?
─ Desenvolva suas virtudes e extirpe seus vícios.
 
20. ─ Isto é tão maravilhoso que chego a não crer que nos comunicamos neste momento.
─ De onde lhe vem a dúvida?
 
21. ─ É que, partilhando de suas opiniões filosóficas, fui levado a atribuir tudo à matéria.
─ Você vê de noite aquilo que vê de dia?
 
22. ─ Ó, meu pai! Então eu me acho na noite?
─ Sim.
 
23. ─ Que é o que o senhor vê de mais maravilhoso?
─ Explique-se melhor.
 
24. ─ Encontrou minha mãe, minha irmã e Ana, a boa Ana?
─ Eu as revi.
 
25. ─ O senhor volta a vê-las quando quer?
─ Sim.
 
26. ─ É penoso ou agradável para o senhor, que eu me comunique consigo?
─ É uma felicidade para mim, se eu puder conduzi-lo ao bem.
 
27. ─ Voltando para casa, que poderia fazer para me comunicar com o senhor, já que isto me dá prazer? Isto serviria para que me conduzisse melhor e me ajudaria a educar os meus filhos.
─ Cada vez que um movimento o levar ao bem, siga-o. Eu o inspirarei.
 
28. ─ Calo-me com receio de importuná-lo.
─ Fale ainda, se quiser.
 
29. ─ Já que o permite, farei mais algumas perguntas. De que afecção o senhor morreu?
─ Minha prova havia chegado ao termo.
 
30. ─ Onde o senhor contraiu o abscesso pulmonar que se manifestou?
─ Pouco importa. O corpo nada é. O Espírito é tudo.
 
31. ─ Qual a natureza da doença que me desperta tão frequentemente durante a noite?
─ Sabê-lo-á mais tarde.
 
32. ─ Considero minha afecção grave e queria ainda viver para os meus filhos.
─ Ela não o é. O coração do homem é uma máquina de vida. Deixe a Natureza agir.
 
33. ─ Considerando-se que o senhor está aqui presente, sob que forma se acha?
─ Sob a aparência de minha forma corpórea.
 
34. ─ O senhor está num lugar determinado?
─ Sim; por detrás de Ermance (a médium).
 
35. ─ Poderia tornar-se visível?
─ Não vale a pena. Vocês teriam medo.
 
36. ─ O senhor tem uma opinião sobre cada um de nós, aqui presentes?
─ Sim.
 
37. ─ Quer dizer alguma coisa a cada um de nós?
─ Em que sentido me faz esta pergunta?
 
38. ─ Do ponto de vista moral.
─ De outra vez. Por hoje basta.
 
Observação: O efeito que esta comunicação produziu no Sr. Georges foi imenso, e uma luz inteiramente nova já parecia clarear-lhe as ideias. Numa sessão a que compareceu no dia seguinte, em casa da Sra. Roger, sonâmbula, acabou de dissipar as poucas dúvidas que lhe poderiam restar. Eis um resumo da carta que a respeito nos escreveu:

“Essa senhora entrou espontaneamente comigo em detalhes tão precisos em relação a meu pai, minha mãe, meus filhos e minha saúde; descreveu com tal exatidão todas as circunstâncias de minha vida, lembrando mesmo fatos que de há muito me haviam sido varridos da memória; numa palavra, deu-me provas tão patentes dessa maravilhosa faculdade de que são dotados os sonâmbulos lúcidos, que desde então foi completa em mim a reação das ideias. Na evocação, meu pai havia revelado a sua presença. Na sessão de sonambulismo, por assim dizer, eu era testemunha ocular da vida extracorpórea, a vida da alma. Para descrever com tanta minúcia e exatidão, e a duzentas léguas de distância, aquilo que só de mim era conhecido, era preciso ver. Ora, de vez que isto não era possível com os olhos do corpo, havia então um laço misterioso, invisível, que ligava a sonâmbula às pessoas e às coisas ausentes que ela jamais tinha visto. Havia, pois, algo fora da matéria. Que podia ser essa coisa senão aquilo que se chama alma, o ser inteligente do qual o corpo é simples envoltório, mas cuja ação se estende muito além de nossa esfera de atividade?”

Atualmente o Sr. Georges não só deixou de ser materialista, mas é um dos adeptos mais fervorosos e mais dedicados do Espiritismo, o que o faz duplamente feliz, pela confiança que agora tem no futuro e pelo prazer que experimenta em praticar o bem.

Esta evocação, inicialmente muito simples, não é menos notável em muitos aspectos. O caráter do velho Georges reflete-se nas respostas breves e sentenciosas que estavam em seus hábitos. Ele falava pouco; jamais dizia uma palavra inútil. Mas já não é o céptico que fala. Ele reconhece seu erro; seu Espírito é mais livre, mais clarividente, e retrata a unidade e o poder de Deus por estas palavras admiráveis: “Só ele é seu igual”. Ele, que em vida tudo atribuía à matéria, diz agora: “O corpo nada é. O Espírito é tudo”. E esta outra frase sublime: “Você vê de noite aquilo que vê de dia?”

Para o observador atento, tudo tem um alcance, e é assim que a cada passo ele encontra a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos. 


Allan Kardec


 Visto em http://ipeak.net/ - 05/04/2017