(O Céu e o Inferno - Segunda Parte - Exemplos, cap. VIII - Expiações terrestres)
A Sra.
B..., de Bordeaux, não sofreu as pungentes angústias da miséria, mas
foi toda a vida uma mártir de dores físicas pelas incontáveis doenças
graves de que foi acometida, durante setenta anos, desde a idade de
cinco meses, e que, quase todo ano, a puseram à porta do túmulo. Foi
envenenada três vezes pelos ensaios feitos nela pela ciência incerta, e
seu temperamento, arruinado pelos remédios tanto quanto pelas doenças,
deixou-a até o fim dos seus dias vítima de intoleráveis sofrimentos que
nada podia acalmar. Sua filha, espírita cristã e médium, pedia a Deus,
nas suas preces, para aliviar suas cruéis provações, mas seu guia
espiritual lhe disse para pedir simplesmente para ela as suportar com
paciência e resignação, e ditou-lhe as instruções seguintes:
“Tudo tem sua razão de ser na existência humana; não há um único dos sofrimentos que causastes que não encontre um eco nos sofrimentos que suportais;
nem um de vossos excessos que não encontre um contrapeso em uma de
vossas privações; nem uma lágrima cai de vossos olhos sem ter de lavar
uma falta, às vezes um crime. Aguentai então com paciência e resignação
vossas dores físicas ou morais, por mais cruéis que vos pareçam, e
pensai no cultivador cujos membros pendem de cansaço, mas que continua
sua obra sem se deter, pois tem sempre diante dele as espigas douradas
que serão os frutos da sua perseverança. Tal é o destino do infeliz que
sofre na vossa terra; a aspiração para a felicidade que deve ser o fruto
da sua paciência, torná-lo-á forte contra as dores passageiras da
humanidade.
“Assim
ocorre com tua mãe; cada dor que ela aceita como uma expiação é uma
mancha apagada do seu passado, e quanto mais cedo todas as manchas forem
apagadas, mais cedo ela será feliz. Somente a falta de resignação torna o sofrimento estéril,
pois então as provas deverão recomeçar. Portanto, o que é mais útil
para ela é a coragem e a submissão; é o que é preciso pedir a Deus e aos
bons Espíritos que lhe concedam.
“Tua
mãe foi outrora um bom médico, muito conhecido numa classe em que nada
custa para assegurar o bem-estar, e na qual ele foi cumulado de dons e
de honrarias. Ambicioso por glória e riquezas, querendo alcançar o
apogeu da ciência, não em vista de aliviar seus irmãos, pois não era
filantropo, mas em vista de aumentar sua reputação, e, por conseguinte,
sua clientela, nada lhe custou para levar a bom fim seus estudos. A mãe
era martirizada em seu leito de sofrimento, porque ele previa um estudo
nas convulsões que provocava; a criança era submetida às experiências
que deviam dar-lhe a chave de certos fenômenos; o velho via apressar seu
fim; o homem vigoroso sentia-se enfraquecido pelos experimentos que
deviam constatar a ação de tal ou qual beberagem, e todas essas
experiências eram tentadas no desgraçado sem desconfiança. A satisfação
da cupidez e do orgulho, a sede de ouro e de reputação, tais foram os
motivos de sua conduta. Foram precisos séculos e terríveis provas para
domar esse Espírito orgulhoso e ambicioso; depois o arrependimento
começou sua obra de regeneração, e a reparação está terminando, pois as
provas desta última existência são brandas perto das que ele aguentou.
Portanto, coragem, se a pena foi longa e cruel, a recompensa concedida à
paciência, à resignação e à humildade será grande.
“Coragem,
vós todos que sofreis; pensai no pouco tempo que dura vossa existência
material; pensai nas alegrias da eternidade; chamai a vós a esperança,
esta amiga devotada de todo coração sofredor; chamai a vós a fé, irmã da
esperança; a fé que vos mostra o céu onde a esperança vos faz penetrar
antes do tempo. Chamai também a vós estes amigos que o Senhor vos dá,
que vos rodeiam, vos apoiam e vos amam, e cuja constante solicitude vos
leva de volta àquele que havíeis ofendido ao transgredir as suas leis.”
Observação:
Após a morte, a senhora B... deu, quer à sua filha, quer à Sociedade
Espírita de Paris, comunicações em que se refletem as mais eminentes
qualidades, e em que ela confirma o que fora dito de seus antecedentes.
Visto em http://ipeak.net/ - 19/04/2017
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