terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O profissionalismo religioso...


O profissionalismo religioso, uma das carantonhas com que o elitismo se apresenta em nosso Movimento, está mesmo quase se instituindo entre nós, por influência de algumas lideranças desavisadas. Força de expressão, de vez que avisados todos estamos desde longa data: "Restitui a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido."

Sou totalmente contra todo e qualquer evento doutrinário pago. Compreendo: hoje em dia, infelizmente, nada se faz sem dinheiro. Não sabemos, porém, lidar com o precedente. Começamos a cobrar insignificante taxa, para cobrir eventuais despesas, com aluguel disto ou daquilo, e logo estamos faturando alto, alegando que parte do arrecadado será encaminhado a obras de benemerência.

Creio que a atividade doutrinária, qualquer que seja não deve, em termos financeiros, ser utilizada como pretexto de manutenção às tarefas assistenciais. A mensagem Espirita, em si, é a maior das caridades! Por exemplo, o livro espírita não deve ser vendido a preço elevado, gerando divisas que não sejam destinadas ao seu próprio sustento. É claro que seria justo prever o salário dos que não possuem outra ocupação profissional e que necessitam sobreviver honradamente.

No meu tempo, a gente colocava a mão no bolso para a edição reduzida de uma obra que, praticamente, era distribuída de graça, mesmo porque não havia muitos aos quais pudéssemos vendê-los. Nós nos cotizávamos e arcávamos com tudo, inclusive com os prejuízos sociais, oriundos do preconceito, que nos eram advindos. Hoje em dia, o autor espirita, seja médium ou não, desfruta de perigoso status...

"O pessoal não está tão preocupado em difundir a Doutrina no Exterior; a preocupação maior é a de render o livro espirita em dólares e em euros..." Quando o assunto é dinheiro, o pessoal costuma perder os bons modos. Um antigo companheiro de lide espirita em Uberaba, o médium Joaquim Cassiano, dizia: - "O médium quando obseda, Doutor, é pior que qualquer um outro; é muito mais difícil de tratar..."

Assim, tenho receio de que estejamos fazendo o Movimento enveredar por um caminho sem volta. Esta questão de direitos autorais, cedidos ou doados, é mais palavra no papel do que qualquer outra coisa. Se Jesus tornasse a vir à Terra e nos adentrasse os templos - os nossos centros espiritas -, sem dúvida, ele teria muito trabalho com o chicote...

O comércio do livro espirita se profissionalizou ou está em vias de se profissionalizar; há considerável economia girando em torno dele: pais de família ganhando o pão de cada dia, etc. Esperamos apenas que, de modo geral, os companheiros sejam comedidos, não percam o idealismo e não lancem no mercado livreiro qualquer coisa como estão fazendo, colocando o lucro em primeiro lugar. Façam de tudo para que o dinheiro fique em segundo plano, caso contrário...

E os eventos doutrinários: - "O pessoal está enfiando os pés pelas mãos...Cobrar por cursos e palestras?! Deus meu! Essa gente deve se considerar muito boa, bem?! ‑ Acho, no entanto, que pior do que quem cobra é quem paga... Daqui a pouco vão estipular preço para sessão mediúnica - sessão de cura: tanto: de psicografia, com cartas do Além: inscrição até o dia tal, considerável desconto: sessão de pintura mediúnica: dependerá da fama dos artistas desencarnados que comparecerem...

Sei não. Talvez, antes de Jesus dar uma passadinha pelos centros espiritas, em seu retorno à Terra, fosse interessante que, primeiro, Moisés viesse dar uma saneada... A coisa está prometendo ficar feia.

O Espiritismo não precisa ir às elites; acho que deve ser o contrário: as elites é que devem vir ao Espiritismo... Aliás, eu nunca vi as chamadas elites sociais sinceramente interessada pela Doutrina. Veja o que acontece em quase todos os centros espiritas grandes, mais bem frequentados: os dirigentes parecem deuses que se deixam entronizar e os médiuns se pavoneiam, qual modernos oráculos revivendo os cultos a Apolo, que eles mesmos imaginam personificar.

Eis o momento do ponto final. Se consegui me segurar até aqui, não convém que, pela minha irreverência e indignação, eu coloque tudo a perder.


Livro: “CARTAS DO DR. INÁCIO AOS ESPÍRITAS”
Médium: Carlos A. Baccelli / Espírito: Inácio Ferreira

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Palestra com Juanita Saturno - Obsessões -19/01/2017

Uma família de monstros


(Revista Espírita, setembro de 1864 - Estudos morais)


Escrevem de Brunswick para o Pays:

“Uma camponesa dos arredores de Lutter acaba de dar à luz uma criança com todas as aparências de um macaco, pois o corpo é quase inteiramente coberto de pelos negros e em tufos, e nem o rosto está isento dessa estranha vegetação.

Casada há doze anos e, posto que admiravelmente conformada, essa infeliz senhora ainda não deu à luz um só filho que não fosse acometido por enfermidades mais ou menos horríveis.

Sua filha mais velha, de dez anos, é completamente corcunda, e seu rosto parece copiado, traço por traço, do rosto de Polichinelo. Seu segundo filho é um garoto de sete anos; ele tem as pernas aleijadas. A terceira, que vai completar cinco anos, é surda-muda e idiota. Enfim a quarta, de dois anos e meio, é completamente cega.

Qual pode ser a causa desse estranho fenômeno? Eis um ponto que a Ciência deve esclarecer.

O pai é um homem perfeitamente constituído e tem todas as aparências da mais robusta saúde e nada pode explicar a espécie de fatalidade que pesa sobre a sua raça.”

(Moniteur, 29 de julho de 1864).


“Eis um ponto que a Ciência deve esclarecer”, diz o jornal. Há muitos outros fatos ante os quais a Ciência fica impotente, sem contar os de Morzine e de Poitiers. A razão disto é muito simples. É que ela se obstina em não procurar as causas senão na matéria, e não leva em conta senão as leis que ela conhece.

A respeito de certos fenômenos, ela está na posição em que se encontraria se não tivesse saído da física de Aristóteles; se tivesse desconhecido a lei da gravitação ou a da eletricidade; onde se achou a religião, enquanto desconheceu a lei do movimento dos astros; onde estão ainda hoje os que desconhecem a lei geológica da formação do globo.

Duas forças partilham o mundo: o espírito e a matéria. O espírito tem as suas leis, como a matéria tem as dela. Ora, reagindo essas duas forças incessantemente uma sobre a outra, disso resulta que certos fenômenos materiais têm como causa a ação do espírito e que umas não podem ser perfeitamente compreendidas se as outras não forem levadas em conta. Fora das leis tangíveis, portanto, há uma outra que desempenha no mundo um papel capital, é a das relações entre os mundos visível e invisível. Quando a Ciência reconhecer a existência dessa lei, aí encontrará a solução de uma infinidade de problemas contra os quais se choca inutilmente.

As monstruosidades, como todas as enfermidades congênitas, sem dúvida têm uma causa fisiológica, que é da alçada da Ciência material. Mas, supondo que esta venha a surpreender o segredo desses desvios da Natureza, restará sempre o problema da causa primeira e a conciliação do fato com a justiça divina. Se a Ciência disser que isto não é da sua alçada, o mesmo não poderá dizer a religião. Quando a Ciência demonstra a existência de um fato, incumbe à religião o dever de aí procurar a prova da soberana sabedoria. Jamais sondou ela, do ponto de vista da divina equidade, o mistério dessas existências anormais? Dessas fatalidades que parecem perseguir certas famílias, sem causas atuais conhe­cidas? Não, porque ela sente sua própria impotência e se apavora com essas questões terríveis para seus dogmas absolutos. Até hoje haviam aceito o fato sem ir mais longe, mas hoje pensam, refletem, querem saber; interrogam a Ciência, que procura nas fibras e fica muda; interrogam a religião, que responde: Mistério impenetrável!

Pois bem! O Espiritismo vem rasgar esse mistério e dele fazer sair a deslumbrante justiça de Deus. Ele prova que essas almas deserdadas desde o nascimento neste mundo já viveram e que elas expiam, em corpos disformes, suas faltas passadas. Demonstra a observação, e a razão o diz, porque não se poderia admitir que sejam castigadas ao sair das mãos do Criador, quando ainda nada fizeram.

Tudo bem, dirão, para o ser que nasce assim. Mas, os pais? Mas essa mãe que dá à luz apenas seres desgraçados; que é privada da alegria de ter um só filho que lhe faça honra e que possa mostrar com orgulho? A isso responde o Espiritismo: Justiça de Deus, expiação, prova para sua ternura materna, porque é uma prova, e bem grande, só ver em torno de si pequenos monstros em vez de crianças graciosas. E ele acrescenta: Não há uma única infração das leis de Deus que mais cedo ou mais tarde não tenha suas funestas consequências, na Terra ou no mundo dos Espíritos, nesta vida ou na seguinte. Pela mesma razão, não há uma só vicissitude da vida que não seja consequência e punição de uma falta passada, e assim será para cada um, enquanto não se tiver arrependido, enquanto não houver expiado e reparado o mal que ele fez. Ele volta à Terra para expiar e reparar. Cabe a ele melhorar-se bastante aqui embaixo para não mais voltar como condenado. Muitas vezes Deus se serve daquele que é punido para punir outros. É assim que os Espíritos dessas crianças, devendo, como punição, encarnar-se em corpos disformes, são, independentemente de sua vontade, instrumentos de expiação para a mãe que os deu à luz. Essa justiça distributiva, proporcional à duração do mal, vale mais que a das penas eternas, irremissíveis, que encerram para sempre a via do arrependimento e da reparação.

O fato acima foi lido na Sociedade Espírita de Paris, como assunto de estudo filosófico, e um Espírito deu a seguinte explicação:

(Sociedade de Paris, 29 de julho de 1864)

Se pudésseis ver os dispositivos ocultos que movem o vosso mundo, compreenderíeis como tudo se encadeia, desde as meno­res coisas às maiores; compreenderíeis, sobretudo, a ligação íntima existente entre o mundo físico e o mundo moral, essa grande lei da Natureza; veríeis a multidão de inteligências que presidem a todos os fatos e os utilizam para que sirvam à realização dos desígnios do Criador. Suponde-vos um instante ante uma colmeia cujas abelhas fossem invisíveis. O trabalho que veríeis realizar-se diariamente vos causaria admiração, e talvez exclamásseis: Singular efeito do acaso! Pois bem! Realmente estais em presença de um atelier imenso, conduzido por inumeráveis legiões de operários para vós invisíveis, dos quais uns são trabalhadores manuais, que obedecem e executam, ao passo que outros comandam e dirigem, cada um na sua esfera de atividade proporcional ao seu desenvolvimento e ao seu adiantamento e, assim, de degrau em degrau, até a vontade suprema, que tudo impulsiona.

Assim se explica a ação da Divindade nos mais ínfimos detalhes. Como os soberanos da Terra, Deus tem os ministros, e esses têm seus agentes subalternos, engrenagens secundárias do grande governo do Universo. Se, num país bem administrado, a última cabana sente os efeitos da sabedoria e da solicitude do chefe de Estado, quanto não deve a infinita sabedora do Altíssimo estender-se aos menores detalhes da criação!

Não creiais, pois, que essa mulher de que acabais de falar seja vítima do acaso ou de uma cega fatalidade. Não. O que lhe acontece tem sua razão de ser, ficai bem convencidos. Ela é castigada no seu orgulho; ela desprezou os fracos e os enfermos; ela foi dura para com os seres infelizes, dos quais desviava os olhos com repugnância, em vez de envolvê-los com um olhar de comiseração; ela envaideceu-se da beleza física de seus filhos, à custa de mães menos favorecidas; ela mostrava-os com orgulho, porque a seus olhos a beleza do corpo valia mais que a da alma; assim, ela neles desenvolveu vícios que lhes retardaram o avanço, em vez de desenvolver as qualidades de coração. Deus permitiu que em sua existência atual ela só tivesse filhos disformes, para que a ternura materna a ajudasse a vencer sua repugnância pelos infelizes. Para ela, portanto, é uma punição e um meio de adiantamento. Entretanto, nessa punição, brilham, ao mesmo tempo, a justiça e a bondade de Deus, que castiga com uma mão e com a outra incessantemente dá ao culpado os meios de se resgatar.

UM ESPÍRITO PROTETOR
 
 
Visto em http://ipeak.net/ - 26/01/2017
 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A vida espiritual - pelo Sr. LECLERC


(Revista Espírita, maio de 1867 - Dissertações espíritas)

(Grupo Lampérière, 9 de janeiro de 1867 - Médium, Sr. Delanne)


Aqui estou, feliz por vir saudar-vos, encorajar-vos e vos dizer:

Irmãos, Deus vos cumula de seus benefícios, prometendo-vos nestes tempos de incredulidade, respirar a plenos pulmões o ar da vida espiritual que sopra com vigor através das massas compactas.

Crede em vosso antigo associado, crede em vosso amigo íntimo, vosso irmão pelo coração, pelo pensamento e pela fé; crede nas verdades ensinadas. Elas são tão seguras quanto lógicas; crede em mim que, há alguns dias, me contentava, como vós, em crer e esperar, ao passo que hoje a doce ficção é para mim uma imensa e profunda verdade. Eu toco, eu vejo, eu sigo, eu possuo; então, isso existe. Analiso minhas impressões de hoje e as comparo com as ainda frescas, da véspera.

Não só me é permitido comparar, sintetizar, pesar minhas ações, meus pensamentos, minhas reflexões, julgá-las pelo critério do bom-senso, mas eu as vejo, eu as sinto, eu sou testemunha ocular, sou a coisa realizada. Não são mais consoladoras hipóteses, sonhos dourados, esperanças, é mais que uma certeza moral: é o fato real, palpável, o fato material que tocamos, que nos toma sob sua forma tangível, e nos diz: isto é.

Aqui tudo respira calma, sabedoria, felicidade; tudo é harmonia; tudo diz: Eis o suprassumo do senso íntimo; não mais quimeras, falsas alegrias, não mais temores pueris, não mais falsa vergonha, não mais dúvidas, não mais angústias, não mais perjúrios, nada desse cortejo vil de fabulosas dores, de erros grosseiros, como se vê diariamente na Terra.

Aqui somos penetrados de uma quietude inefável; admiramos, oramos, adoramos, rendemos ações de graças ao sublime autor de tantos benefícios; estudamos e entrevemos todas as potências infinitas; vemos o movimento das leis que regem a Natureza. Cada obra tem um objetivo que conduz ao amor, diapasão da harmonia geral. Vemos o progresso presidir a todas as transformações físicas e morais, porque o progresso é infinito como Deus que o criou. Tudo é compreensível; tudo é nítido, preciso; nada de abstrações, porque tocamos com o dedo e a razão o porquê das coisas humanas. As legiões espirituais adiantadas só têm um objetivo, o de se tornarem úteis a seus irmãos atrasados, para elevá-los para elas.

Trabalhai, pois, sem cessar, conforme vossas forças, meus bons irmãos, para vos melhorar e serdes úteis aos vossos semelhantes; não só fareis a doutrina, que é vossa alegria, dar um passo, mas tereis contribuído poderosamente para o progresso do vosso planeta; a exemplo do grande legislador cristão, sereis homens, homens de amor, e concorrereis para implantar o reino de Deus sobre a Terra.

Este que é ainda e mais que nunca vosso condiscípulo,

LECLERC.


OBSERVAÇÃO: Com efeito, tal ó o caráter da vida espiritual; mas seria um erro crer que basta ser Espírito para encará-la deste ponto de vista. Dá-se com o mundo espiritual como com o mundo corporal: para apreciar as coisas de uma ordem elevada, é necessário um desenvolvimento intelectual e moral que não é peculiar senão a Espíritos adiantados; os Espíritos atrasados ignoram o que se passa nas altas esferas espirituais, como o eram na Terra em relação ao que constitui a admiração dos homens esclarecidos, porque não podem compreendê-lo. Não podendo seu pensamento, circunscrito num horizonte limitado, abarcar o infinito, eles não podem ter os prazeres resultantes do alargamento da esfera de atividade espiritual. A soma de felicidades, no mundo dos Espíritos, ali é, portanto, por força das coisas, proporcional ao desenvolvimento do senso moral, de onde resulta que trabalhando aqui em baixo por nosso melhoramento e nossa instrução, aumentamos as fontes de felicidade para a vida futura. Para o materialista, o trabalho só tem um resultado limitado à vida presente, que pode acabar de um instante para outro. O espírita, ao contrário, sabe que nada do que ele adquire, mesmo à última hora, fica perdido, e que todo progresso realizado lhe será proveitoso.

As profundas considerações de nosso antigo colega, Sr. Leclerc, sobre a vida espiritual, são, pois, uma prova de seu adiantamento na hierarquia dos Espíritos, pelo que o felicitamos.

Visto em http://ipeak.net/ - 19/01/2017
 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

O SR. LECLERC


(Revista Espírita, janeiro de 1867 - Necrologia)

A Sociedade Espírita de Paris acaba de sofrer uma nova perda na pessoa do Sr. Charles-Julien Leclerc, antigo mecânico, de cinquenta e sete anos, falecido subitamente de um ataque de apoplexia fulminante, a 2 de dezembro, quando entrava no Ópera. Tinha morado muito tempo no Brasil e lá havia aprendido as primeiras noções de Espiritismo, para o que o havia preparado a doutrina de Fourrier, da qual era zeloso partidário. Voltando à França, depois de haver conquistado uma posição de independência por seu trabalho, dedicou-se à causa do Espiritismo, cujo alto alcance humanitário e moralizador para a classe operária tinha entrevisto facilmente. Era um homem de bem, querido, estimado e lamentado por todos que o conheceram, um espírita de coração, esforçando-se por colocar em prática, em proveito de seu adiantamento moral, os ensinamentos da doutrina, um desses homens que honram a crença que professam.
 
A pedido da família, fizemos ao pé do túmulo a prece pelas almas que acabam de deixar a Terra (Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVII – IV), seguida destas palavras:
 
“Caro senhor Leclerc, sois um exemplo da incerteza da vida, pois que, na antevéspera de vossa morte, estáveis entre nós, sem que nada deixasse pressentir uma partida tão súbita. Assim Deus nos adverte para nos mantermos sempre prontos a prestar contas do emprego que fizemos do tempo que passamos na Terra. Ele nos chama no momento que menos esperamos. Que seu nome seja bendito por vos ter poupado as angústias e os sofrimentos que por vezes acompanham o trabalho da separação.
 
Fostes unir-vos aos colegas que vos precederam e que, sem dúvida, vieram receber-vos no sólio da nova vida; mas essa vida, com a qual vos identificastes, não vos deve ter representado nenhuma surpresa; nela entrastes como num país conhecido, e não duvidamos que aí gozeis da felicidade reservada aos homens de bem, aos que praticaram as leis do Senhor.
 
Vossos colegas da Sociedade Espírita de Paris se honram por vos ter contado em suas fileiras, e vossa memória lhes será sempre cara. Por minha voz, eles vos oferecem a expressão de seus sentimentos da mais sincera simpatia que soubestes conquistar. Se alguma coisa suaviza nosso pesar por esta separação, é o pensamento que sois feliz como o mereceis, e a esperança de que não deixareis de vir participar dos nossos trabalhos.
 
Caro irmão, que o Senhor derrame sobre vós os tesouros de sua bondade infinita. Nós lhe pedimos que vos conceda a graça de velar por vossos filhos e de dirigi-los no caminho do bem que vós seguistes.”
 
Prontamente desprendido, como o supúnhamos, o Sr. Leclerc pôde manifestar-se na Sociedade, na sessão que se seguiu ao seu enterro. Consequentemente, não houve nenhuma interrupção em sua presença, pois ele tinha assistido à sessão precedente. Além do sentimento de afeição que a ele nos ligava, essa comunicação devia ter o seu lado instrutivo. Seria interessante conhecer as sensações que acompanham esse gênero de morte. Nada do que possa esclarecer sobre as diversas fases dessa passagem que todo o mundo deve transpor poderia ser indiferente. Eis a comunicação:

(Sociedade de Paris, 7 de dezembro de 1866 Médium, Sr. Desliens)

Posso, enfim, por minha vez, vir a esta mesa! Embora minha morte seja recente, mais de uma vez já fui tomado de impaciência. Eu não podia apressar a marcha do tempo. Eu tinha também que vos agradecer por vossa pressa em cercar meus despojos mortais, e pelos pensamentos simpáticos que prodigalizastes ao meu Espírito. Oh! mestre, obrigado por vossa benevolência, pela emoção profunda que sentistes acolhendo meu amado filho. Como eu seria ingrato se de vós não conservasse uma eterna gratidão!
 
Meu Deus, obrigado! Meus desejos estão realizados. Hoje posso apreciar a beleza deste mundo que eu não conhecia senão através das comunicações dos Espíritos. De certa forma, ao chegar aqui experimentei as mesmas emoções, mas infinitamente mais vivas, que senti ao abordar pela primeira vez as terras da América. Eu não conhecia essa região senão pela descrição dos viajantes, e estava longe de fazer uma ideia de suas luxuriantes produções. Deu-se o mesmo aqui. Quanto este mundo é diferente do nosso! Cada rosto é a reprodução exata dos sentimentos íntimos; nenhuma fisionomia mentirosa; impossível a hipocrisia; o pensamento se revela inteiramente no olhar, benevolente ou malévolo, conforme a natureza do Espírito.
 
Pois bem! Vede! Aqui ainda sou castigado por minha falta principal, que eu combatia com tanto esforço na Terra, e que tinha chegado a dominar em parte; a impaciência que tinha de me ver entre vós perturbou-me a tal ponto que não sei mais exprimir minhas ideias com lucidez, embora aquela matéria que outrora tanto me arrastava à cólera não mais exista! Vamos, eu me acalmo, porque é necessário.
 
Oh! Fiquei muito surpreso com este fim inesperado! Eu não temia a morte e há muito tempo a considerava como o fim da provação, mas essa morte tão imprevista não deixou de me causar um profundo choque... Que golpe para minha pobre mulher!... Como o pesar sucedeu rapidamente ao prazer! Eu sentia um verdadeiro prazer em ouvir boa música, mas não pensava estar tão cedo em contacto com a grande voz do infinito... Como a vida é frágil!... Um glóbulo de sangue coagula; a circulação perde a regularidade e tudo está acabado!... Eu teria querido viver ainda alguns anos, ver meus filhos todos estabelecidos; Deus decidiu de outro modo. Que a sua vontade seja feita! 
 
No momento em que a morte me feriu, recebi como que um golpe na cabeça; um peso esmagador me derrubou; depois, de repente senti-me livre, aliviado. Planei acima de meus despojos; considerei com espanto as lágrimas dos meus, e enfim me dei conta do que me tinha acontecido. Reconheci-me prontamente. Vi meu segundo filho acorrer, chamado pelo telégrafo. Ah! Bem que eu tentei consolá-los; soprei-lhes meus melhores pensamentos e vi, com certa felicidade, alguns cérebros refratários pouco a pouco se inclinarem para o lado da crença que fez toda a minha força neste últimos anos, à qual devo tão bons momentos. Se venci um pouco o homem velho, a que o devo senão ao nosso caro ensino, aos conselhos reiterados de meus guias? E contudo eu coro, embora Espírito, e ainda me deixei dominar por esse maldito defeito: a impaciência. Assim sou castigado, porque estava ansioso para me comunicar e vos contar mil detalhes, que sou obrigado a adiar. Oh! Serei paciente, mas com pesar. Estou tão feliz aqui, que me custa deixar-vos. Entretanto, bons amigos estão junto a mim e eles próprios se uniram para me acolher: Sanson, Baluze, Sonnez, o alegre Sonnez, de cuja verve satírica eu tanto gostava, depois Jobard, o bravo Costeau e tantos outros. Em último lugar, a Sra. Dozon; depois um pobre infeliz, muito lastimável, cujo arrependimento me toca. Orai por ele, como por todos aqueles que se deixaram dominar pela prova.
 
Em breve voltarei para nos entretermos novamente. Ficai persuadidos que não serei menos assíduo às nossas caras reuniões, como Espírito, do que era como encarnado.

LECLERC.



Visto em http://ipeak.net/ - 11/01/2017

 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Lincoln e o seu matador

 
(Revista Espírita, março de 1867)

Extraído do Banner of light, de Boston


Análise de uma comunicação de Abraão Lincoln, obtida por um médium de Ravenswood.

“Quando Lincoln voltou de seu atordoamento e despertou no mundo dos Espíritos, ele ficou muito surpreso e perturbado, porque não tinha a menor ideia de que estivesse morto. O tiro que o feriu havia suspendido instantaneamente toda sensação e ele não compreendeu o que lhe havia acontecido. Essa confusão e essa perturbação, contudo, não duraram muito. Ele era bastante espiritualista para compreender o que é a morte e não ficou, como muitos outros, admirado da nova existência para a qual fora transportado. Ele se viu cercado por muitas pessoas que ele sabia que estavam mortas há muito tempo, e logo soube a causa de sua morte. Foi recebido cordialmente por muitas pessoas que com ele simpatizavam. Compreendeu sua afeição por ele e, num olhar, pôde abarcar o mundo feliz no qual tinha entrado.

No mesmo instante experimentou um sentimento de angústia pela dor que devia experimentar sua família, e uma grande ansiedade a propósito das consequências que sua morte poderia ter para o país. Esses pensamentos o trouxeram violentamente de volta à Terra.

Tendo sabido que William Booth estava mortalmente ferido, veio a ele e curvou-se sobre o seu leito de morte. Nesse momento Lincoln tinha recuperado a perfeita consciência e a tranquilidade de Espírito, e esperou com calma o despertar de Booth para a vida espiritual.

Booth não ficou espantado ao despertar, porque esperava a morte. O primeiro Espírito que encontrou foi Lincoln; olhou-o com muita afoiteza, como se se gabasse do ato que havia praticado. O sentimento de Lincoln a seu respeito, entretanto, não testemunhava nenhuma ideia de vingança, muito ao contrário, mostrava-se suave e bom e sem a menor animosidade. Booth não pôde suportar esse estado de coisas e o deixou cheio de emoção.

O ato que ele perpetrou teve vários móveis; primeiro, sua falta de raciocínio, que lho fazia considerar como meritório, depois, seu amor desregrado por louvores o tinha persuadido que ele seria cumulado de elogios e visto como um mártir.

Depois de ter vagado, sentiu-se de novo atraído para Lincoln. Às vezes enche-se de arrependimento, outras vezes seu orgulho o impede de emendar-se. Entretanto, compreende quanto o seu orgulho é vão, sabendo sobretudo que não pode esconder, como em vida, nenhum dos sentimentos que o agitam, e que seus pensamentos de orgulho, de vergonha ou de remorso são conhecidos dos que o rodeiam. Sempre em presença de sua vítima e dela não receber senão manifestações de bondade, eis o seu estado atual e sua punição. Quanto a Lincoln, sua felicidade ultrapassa o que poderia ter esperado.”

OBSERVAÇÃO: A situação destes dois Espíritos é, em todos os sentidos, idêntica àquela de que diariamente vemos exemplos nos relatos de além-túmulo. Ela é perfeitamente racional e está em relação com o caráter dos dois indivíduos.
 
 
Visto em http://ipeak.net/ - 04/01/2017
 
 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

PÉROLAS EM PENSAMENTOS DE AUTORES DIVERSOS E/OU DESCONHECIDOS (PARA REFLETIR)


*Se você quiser melhorar o mundo, tome por hábito e
Higienize a sua alma todo dia, assim como escova os seus dentes.

*A tarefa da Casa Religiosa é de iluminar, e não de eliminar o espírito mau, perverso, e cruel, pois ele é nosso irmão que, ainda, vive na ignorância.

* O mal só existe para nos levar ao bem.

*A nossa vida não se resume entre o berço e o túmulo. ela é uma continuidade.

*Todo dia é tempo de semear, e, todo dia é tempo de colher.

*O tempo, não deixará, de nos apresentar a conta a ser paga, e nos restará a vergonha e o arrependimento de ter feito o que fez.

* Só a humildade amadurece o homem

*Pequeninas sementeiras de bondade geram imensas e abençoadas fontes de alegria.

*O HOMEM é um cadáver adiado; e a
VIDA é uma peça de teatro que não permite ensaios.

*Quem aprende pode ensinar.

*Não há um ser aqui na Terra que esteja impossibilitado de fazer o bem.

*Nosso sacrifício pessoal será o único advogado decente que se levantará para defender-nos.

*Não cruzemos os braços, deixando por conta de Deus o que é tarefa nossa.

*Devemos pregar mais pelo exemplo do que pela palavra.

*Ainda, somos crianças na Escola da Vida Eterna.

*Nunca conseguiremos fraudar ou enganar a nossa própria consciência.

* “Posso ser uma besta espírita, mas não sou um espírita besta”
Chico Xavier

* “Foi preciso chegar aos tempos modernos e à liberdade de pensar e de discutir publicamente, para que a verdade das vidas sucessivas pudesse renascer à grande luz da publicidade”
Gabriel Delanne

* “Confiança é algo difícil de conquistar, mas extremamente fácil de perder”
Pai João de Aruanda

* “A dor é para todos, mas o sofrimento é só para quem quer”
Pai João de Aruanda

*”Atitudes derrotistas não resolvem, apenas aprofundam os problemas”
Pai João de Aruanda
*”É imprescindível ver, além de enxergar”
Pai João de Aruanda

*”Só ficam a sós aqueles que não amam”
Pai João de Aruanda

* ”O conhecimento convence, mas o Evangelho arrebata a alma da escuridão”
Pai João de Aruanda

* “O homem “não sabe viver” e, por conseguinte, não “sabe morrer”.”
José Lázaro e Klaus

* “Ninguém “morre bem” se não viveu em plenitude “o bem”.”

* “O que pode ser tão pouco e necessário? – “É o Amor”.”
Inácio Ferreira

* “Somente o Amor é capaz de prodígio singular: Quanto mais tira de si, mais ele tem para dar.”
Inácio Ferreira

* “Se você quer voltar a sorrir com espontaneidade, frequente mais o consultório da caridade do que o do psiquiatra ou do analista”
Inácio Ferreira

* “A vontade é uma alavanca que não dispensa o concurso das mãos. Querer com as palavras nem sempre é querer com as entranhas do ser!”
Inácio Ferreira

* “A doença é processo de cura no espírito”
Inácio Ferreira

* “A Vida é bem mais do que os homens comumente imaginam. Deus a nada e a ninguém privilegia”
Inácio Ferreira

* “A dor é uma bênção que Deus envia a seus eleitos”
Inácio Ferreira

* “Somente pela visão espírita, o homem será capaz de entender o sofrimento na condição de benção”
Inácio Ferreira

* “A dor retempera o aço que somos, e o amor dá os retoques finais à obra-prima!”
Inácio Ferreira

* “O Mundo Espiritual, para decepção de muita gente, não é um mundo mágico!”
Inácio Ferreira

* “O homem sempre tende a recorrer à lei do menor esforço. Quer se ver livre dos empecilhos, de preferência sem qualquer empenho de sua parte”
Inácio Ferreira

* “Ontem é história / Amanhã é mistério / Hoje é uma dádiva (por isso se chama PRESENTE)”

* “Somente o AMOR é capaz
De prodígio singular;
Quanto mais tira de si,
Mais ele tem para dar.”

*”Todo pão que repartes; É valor que acumulas.
Agasalho que dês; Faz-se apoio a ti mesmo.
Coragem que transmitas; É uma luz que te segue.
Ofensa que perdoas; É paz que te acompanha.
Não esperes dos outros compensações quaisquer;
De todo o bem que faças a resposta é de Deus”.


Conhecer-se a si mesmo



(Revista Espírita, junho de 1863 - Dissertações espíritas)

(Sociedade Espírita de Sens, 9 de março de 1863)


O que impede, por vezes, que vos corrijais de um defeito, de um vício, é, certamente, que não vos apercebeis que o tendes. Enquanto vedes os menores defeitos do vosso próximo, do vosso irmão, nem mesmo suspeitais de que tendes as mesmas falhas, talvez cem vezes maiores que as deles. Isto nada mais é que uma consequência do orgulho que vos leva, como a todos os seres imperfeitos, a não achar nada de bom senão em vós. Deveríeis vos analisar como se não fôsseis vós mesmos. Imaginai, por exemplo, que aquilo que fizestes ao vosso irmão vos tivesse sido feito por ele. Colocai-vos no lugar dele. O que faríeis? Respondei sem ideia preconcebida, pois suponho que queirais a verdade. Assim fazendo, estou certo de que muitas vezes descobrireis defeitos vossos, que antes não havíeis notado. Sede francos convosco mesmos; travai conhecimento com o vosso caráter, mas não o aduleis, porque as crianças aduladas às vezes se tornam más e os aduladores são os primeiros a experimentar os efeitos. Voltai ao alforje onde estão os vossos e os alheios defeitos. Ponde os vossos na frente e os dos outros atrás e atentai bem para ver se isso não vos faz abaixar a cabeça, quando tiver­des essa carga na frente.

LA FONTAINE


Visto em http://ipeak.net/ - 28/12/2016
 
 

Informativo IEEAK nº 94 - Janeiro/2017