terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O profissionalismo religioso...


O profissionalismo religioso, uma das carantonhas com que o elitismo se apresenta em nosso Movimento, está mesmo quase se instituindo entre nós, por influência de algumas lideranças desavisadas. Força de expressão, de vez que avisados todos estamos desde longa data: "Restitui a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido."

Sou totalmente contra todo e qualquer evento doutrinário pago. Compreendo: hoje em dia, infelizmente, nada se faz sem dinheiro. Não sabemos, porém, lidar com o precedente. Começamos a cobrar insignificante taxa, para cobrir eventuais despesas, com aluguel disto ou daquilo, e logo estamos faturando alto, alegando que parte do arrecadado será encaminhado a obras de benemerência.

Creio que a atividade doutrinária, qualquer que seja não deve, em termos financeiros, ser utilizada como pretexto de manutenção às tarefas assistenciais. A mensagem Espirita, em si, é a maior das caridades! Por exemplo, o livro espírita não deve ser vendido a preço elevado, gerando divisas que não sejam destinadas ao seu próprio sustento. É claro que seria justo prever o salário dos que não possuem outra ocupação profissional e que necessitam sobreviver honradamente.

No meu tempo, a gente colocava a mão no bolso para a edição reduzida de uma obra que, praticamente, era distribuída de graça, mesmo porque não havia muitos aos quais pudéssemos vendê-los. Nós nos cotizávamos e arcávamos com tudo, inclusive com os prejuízos sociais, oriundos do preconceito, que nos eram advindos. Hoje em dia, o autor espirita, seja médium ou não, desfruta de perigoso status...

"O pessoal não está tão preocupado em difundir a Doutrina no Exterior; a preocupação maior é a de render o livro espirita em dólares e em euros..." Quando o assunto é dinheiro, o pessoal costuma perder os bons modos. Um antigo companheiro de lide espirita em Uberaba, o médium Joaquim Cassiano, dizia: - "O médium quando obseda, Doutor, é pior que qualquer um outro; é muito mais difícil de tratar..."

Assim, tenho receio de que estejamos fazendo o Movimento enveredar por um caminho sem volta. Esta questão de direitos autorais, cedidos ou doados, é mais palavra no papel do que qualquer outra coisa. Se Jesus tornasse a vir à Terra e nos adentrasse os templos - os nossos centros espiritas -, sem dúvida, ele teria muito trabalho com o chicote...

O comércio do livro espirita se profissionalizou ou está em vias de se profissionalizar; há considerável economia girando em torno dele: pais de família ganhando o pão de cada dia, etc. Esperamos apenas que, de modo geral, os companheiros sejam comedidos, não percam o idealismo e não lancem no mercado livreiro qualquer coisa como estão fazendo, colocando o lucro em primeiro lugar. Façam de tudo para que o dinheiro fique em segundo plano, caso contrário...

E os eventos doutrinários: - "O pessoal está enfiando os pés pelas mãos...Cobrar por cursos e palestras?! Deus meu! Essa gente deve se considerar muito boa, bem?! ‑ Acho, no entanto, que pior do que quem cobra é quem paga... Daqui a pouco vão estipular preço para sessão mediúnica - sessão de cura: tanto: de psicografia, com cartas do Além: inscrição até o dia tal, considerável desconto: sessão de pintura mediúnica: dependerá da fama dos artistas desencarnados que comparecerem...

Sei não. Talvez, antes de Jesus dar uma passadinha pelos centros espiritas, em seu retorno à Terra, fosse interessante que, primeiro, Moisés viesse dar uma saneada... A coisa está prometendo ficar feia.

O Espiritismo não precisa ir às elites; acho que deve ser o contrário: as elites é que devem vir ao Espiritismo... Aliás, eu nunca vi as chamadas elites sociais sinceramente interessada pela Doutrina. Veja o que acontece em quase todos os centros espiritas grandes, mais bem frequentados: os dirigentes parecem deuses que se deixam entronizar e os médiuns se pavoneiam, qual modernos oráculos revivendo os cultos a Apolo, que eles mesmos imaginam personificar.

Eis o momento do ponto final. Se consegui me segurar até aqui, não convém que, pela minha irreverência e indignação, eu coloque tudo a perder.


Livro: “CARTAS DO DR. INÁCIO AOS ESPÍRITAS”
Médium: Carlos A. Baccelli / Espírito: Inácio Ferreira

Nenhum comentário:

Postar um comentário